Feminismo
Há uns anos atrás, a meio de uma apresentação de um dos meus livros, uma senhora levantou o braço (não levem em grande consideração, no máximo deviam estar naquele stand, vinte pessoas!) e perguntou-me se eu era feminista. Fiquei parada durante uns segundos, como se pela primeira vez na minha vida, levantasse a mim mesma a questão. Serei??
A amiga que me acompanhava esboçou um sorriso, até porque me conhece como ninguém e tenho a certeza que o seu pensamento foi:
- Sim!!!
Mas curiosamente, fiquei momentaneamente apática. Porque percebi que quando a pergunta foi feita, deixou no ar a dúvida se a minha interlocutora se referia ao feminismo ou ao femismo.
Embora as palavras tenham semelhanças, os significados são díspares. O feminismo é um movimento social de "quebra" da hierarquização dos sexos, do sexismo e do machismo, reivindicando igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Já o femismo, pode ser considerado o sinónimo do machismo (ao mesmo tempo que é o seu oposto), pois trata-se de uma ideologia de superioridade da mulher sobre o homem. O femismo, assim como o machismo, prega a construção de uma sociedade hierarquizada a partir do género sexual, baseada num regime matriarcal. E este não me diz nada, nem me seduz.
Porque nunca gostei de fundamentalismos. Numa me identifiquei com pensamentos fechados, em que o meio termo, não existe. Gosto do preto e do branco, mas também aprecio e reconheço a importância do cinzento.
E então finalmente respondi:
- Sim, sou.
Porque cada um é nada mais nada menos que o reflexo de tudo o que viveu, aprendeu e experienciou. O feminismo, como muitos pensam erroneamente, não é um movimento sexista, ou seja, que defende a figura do feminino sobre o masculino, mas sim uma luta pela igualdade entre ambos os géneros.
No momento em que respondi, veio-me à memória uma outra pergunta que um jovem numa escola me fez:
- Porque escreve só sobre mulheres?
Recordei a resposta:
- Não escrevo só sobre as mulheres, mas escrevo sobretudo para as mulheres. Porque elas são o berço da vida.
E é isto.
Se ser feminista é entender e valorizar papel da mulher na sociedade e lutar pela igualdade entre mulheres e homens em todos os setores, sim, sou.
Se ser feminista é acreditar na inserção da mulher na sociedade, dando voz e expressão às suas necessidades, sim, sou.
Se ser feminista é crer que a mulher não “tem que” nada, se não quiser, sim, sou.
Se ser feminista é defender a humanidade das mulheres, sim, sou.
E isso não seria nada de mais, não fosse este um mundo onde tanta gente luta diariamente por valores contrários.
Onde representantes políticos e não só, em pleno séc.XXI, ousam diminuir o papel da mulher e consideram-se plenos desse direito.
E isso dá que pensar.
A importância das palavras, e o impacto que estas têm na criação de uma consciência coletiva mais justa, equilibrada e digna para todos, não pode ser menosprezada.
São as vozes machistas que nos levam por vezes a crer, que afinal a inteligência, a força e a aparente superioridade física não são apanágio dos poderosos.
Às vezes basta ser um macaco ágil.
E trepar até ao ramo mais alto.